Saudações Companheiros!

A luta deles é para segregar, a nossa luta é para unificar. Nossa luta não é a luta do contrapoder: é a luta do antipoder. John Holloway

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O IIRSA e a Resistência dos Movimentos Populares

O IIRSA (Iniciativa para Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana) é um programa estabelecido pelos governos de 12 países na América do Sul, com o objetivo de integrar fisicamente esses países mediante ações conjuntas nas áreas de transportes (rodoviário, portuário, aeroportuário, hidroviário, etc), energia (oleodutos, gasodutos, redes de energia elétrica, etc), logística (quebra de barreiras aduaneiras, mercados de fretes e seguros, etc) e telecomunicações, levando em conta estradas, rios e hidrelétricas.
Esses projetos, já em curso em todos os países integrantes, são financiados e impulsionados por organismos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF), o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), do Estado brasileiro, etc. As construções em curso, e de tamanha infra-estrutura, que sem dúvida levarão os países da América do Sul a um aumento exponencial da sua dívida externa, servirão para fundamentalmente maximizar a exploração dos nossos recursos naturais, acelerar o processo de abastecimento dos mercados internacionais com esses recursos e beneficiar as empresas transnacionais. O “desenvolvimento econômico” para a região que se intenta com esse plano promoverá as condições necessárias para a reprodução do sistema capitalista, por meio da abertura dos mercados mundiais, promoção da iniciativa privada e retirada dos Estados da atividade econômica direta. O que significa uma nova ofensiva, em consonância com tratados de livre comércio estabelecido entre os Estados Unidos e alguns países da região, para a ampliação do modelo neoliberal na América do Sul.
Diante dos objetivos declarados abertamente pelos organismos multilaterais por trás do IIRSA, de promover a abertura da região para os mercados internacionais, sabemos que toda essa infra-estrutura não promoverá o desenvolvimento sócio-econômico da região, mas consolidará ainda mais o espólio das nossas riquezas naturais, perpetuando o histórico de região periférica abastecedora do capitalismo internacional.
O que somente continuará enriquecendo as classes dominantes e manterá as veias do nosso continente abertas para o saque. Como conseqüência de tal modelo haverá, inegavelmente, ocupação de terras indígenas, remoção inteira de populações locais, alterações em leis ambientais, etc. Só no Brasil, por exemplo, das 137 unidades de conservação, metade será afetada por projetos ligados ao IIRSA, o que, sem dúvida, provocará sérios impactos ambientais. Por essas razões, entendemos que o plano IIRSA e o modelo de desenvolvimento que fomenta provocarão mais perda de soberania, precarização do trabalho, desigualdade social e roubo dos recursos naturais do continente.
Dado a forma como esse plano vem sendo implementado desde o seu início, em 2000 – com total desconhecimento social, silêncio dos governos e das mídias corporativas, sem qualquer consulta às populações locais que já estão sendo afetadas por ele e as que ainda serão – e a abrangência de suas ações conjuntas, que operarão em todo o continente, diversas organizações populares pelo continente, muitas delas reunidas no IX Encontro Latino Americano de Organizações Populares Autônomas (ELAOPA), ocorrido em São Paulo no mês de janeiro, concordaram ser de fundamental importância que o IIRSA seja um tema em torno do qual os movimentos devem atuar nos próximos anos. O IIRSA é só um dos motivos dentre os quais os movimentos populares podem e devem se organizar. Sabemos que as necessidades nos unem em torno das mais diferentes questões: aquelas relativas ao campo do trabalho, à moradia, à terra, aos serviços públicos, aos recursos naturais, à comunicação, à cultura, às opressões de gênero, raça e etnia, à educação, dentre tantas outras. São questões que resultam da sociedade de classes em que vivemos, em que um pequeno grupo das classes dominantes detém o poder e as grandes maiorias são oprimidas, exploradas, dominadas.
A intervenção nesta correlação de forças só é possível por meio da organização, quando nos associamos aos nossos semelhantes e, juntamente com eles, construímos alternativas de luta. A essas organizações, que unem pessoas que fazem parte do campo oprimido e que se articulam em torno das necessidades, dá-se o nome de movimentos populares ou de movimentos sociais. Unindo a necessidade, a organização e a vontade que temos de transformar a sociedade, conseguimos potencializar nossas forças e unidos, intervir de maneira mais adequada na realidade. O principal problema que hoje enfrentamos é a falta de mobilização das classes oprimidas que, em sua ampla maioria, estão desorganizadas e sem contribuir efetivamente no processo de luta de classes dentro do qual estamos inseridos. Portanto, mobilizar, realizar o trabalho de base, organizar para a luta e para a resistência parece uma necessidade das mais importantes.
No entanto, não basta qualquer tipo de organização. Quando estivermos mobilizando, realizando trabalho de base e criando movimentos sociais, devemos estar atentos para que estes contribuam com o nosso projeto de transformação social. Infelizmente, hoje em dia, os diversos setores que estão organizados, na imensa maioria, não contribuem neste sentido e a razão disso ocorrer é por estarem completamente burocratizados.
É fundamental, por este motivo, além da criação de novas organizações, que nossa militância participe de movimentos já existentes.
Em ambos os casos, é imprescindível a promoção dos princípios que nos unem, como por exemplo aqueles que fundamentam o ELAOPA. A defesa da solidariedade e da independência/autonomia de classe, da solidariedade, da luta popular e da democracia de base, no intuito de construir o poder popular em nossas terras, materializa esta forma de trabalho dos movimentos populares.
Acreditamos que, associadas nos movimentos sociais, as classes oprimidas devem se organizar com base na solidariedade de classe, criando a possibilidade de trabalhos conjuntos e alianças entre os diversos setores do povo, ou seja, das classes oprimidas (trabalhadores da cidade do campo, precarizados/desempregados, etc.) sem priorizar uma ou outra fração de classe. É também fundamental saber manter a independência/autonomia de classe, naquilo que diz respeito aos partidos políticos, aos governos, às empresas, ONGs e outros que não se encontram do nosso lado na luta de classes. Além disso, a hierarquia deve dar lugar às decisões democráticas a serem tomadas pelas próprias bases dos movimentos, o que é fundamental para irmos criando hoje a sociedade em que queremos viver amanhã.
É somente por meio da luta popular de massas, articulada nos movimentos populares, que poderemos acumular forças de maneira a conseguir vitórias no curto prazo e ir acumulando para um processo de mais longo prazo, quando nossa força poderá ser capaz de superar as forças das classes dominantes, tornando possível a construção de uma nova sociedade.
Quando defendemos que a construção do poder popular deve começar desde já, significa que este acúmulo de forças, sendo realizado a partir dos princípios colocados, pode começar a moldar a sociedade que queremos construir. Poder, neste sentido, não significa Estado e nem as suas instâncias, significa a superação das forças das classes dominantes pelas forças das classes oprimidas, um sistema de regulação completamente distinto, autogerido e decididamente democrático, em que não há exploradores e explorados, dominadores e dominados.
Popular, pois nosso projeto de poder é de classe, e se forja no seio das classes oprimidas, na luta e na resistência.

Federação Anarquista do Rio de Janeiro

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