Saudações Companheiros!

A luta deles é para segregar, a nossa luta é para unificar. Nossa luta não é a luta do contrapoder: é a luta do antipoder. John Holloway

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Rumo à Anarquia



por Errico Malatesta - 1910

É muito freqüente acreditar que pelo fato de dizermo-nos revolucionários, achamos que o advento da anarquia deva produzir-se de uma só vez, como conseqüência imediata de uma insurreição, que abateria de forma violenta tudo o que existe e o substituiria por instituições verdadeiramente novas. Para dizer a verdade, não faltam camaradas que assim concebem a revolução.

Este mal-entendido explica porque entre nossos adversários, muitos crêem, de boa fé, que a anarquia é uma coisa impossível; e isto também explica porque certos camaradas, vendo que a anarquia não pode medrar repentinamente, tendo em vista as condições morais atuais da massa, vivem entre um dogmatismo que os põe fora da vida real e um oportunismo que os faz quase esquecer que são anarquistas e, nesta qualidade, devem combater a favor da anarquia.

Ora, é certo que o triunfo da anarquia não pode ser efeito de um milagre, assim como não pode produzir-se a despeito de, e em contradição com a lei da evolução: que nada aconteça sem causa suficiente, que nada se possa fazer se faltar a força necessária.

Se quiséssemos substituir um governo por outro, isto é, impor nossa vontade aos outros, bastaria, para isto, adquirir a força material indispensável para abater os opressores e colocarmo-nos em seu lugar.

Mas, ao contrário, queremos a Anarquia, isto é, uma sociedade fundada sobre o livre e voluntário acordo, na qual ninguém possa impor sua vontade a outrem, onde todos possam fazer como bem entendem e concorrer voluntariamente para o bem-estar geral. Seu triunfo só será definitivo, universal, quando todos os homens não mais quiserem ser comandados nem comandar outras pessoas, e tiverem compreendido as vantagens da solidariedade para saber organizar um sistema social no qual não haverá mais marca de violência e de coação.

Por outro lado, assim como a consciência, a vontade, a capacidade, aumentam gradualmente e só podem encontrar oportunidade e meios de se desenvolverem na transformação gradual do meio e na realização das vontades à medida em que elas se formam e se tornam imperiosas; assim, também, a anarquia instaurar-se-á pouco a pouco, para se intensificar e se ampliar cada vez mais.

Não se trata, portanto, de chegar à anarquia hoje ou amanhã, ou em dez séculos, mas caminhar rumo a anarquia hoje, amanhã e sempre.

A anarquia é a abolição do roubo e da opressão do homem pelo homem, quer dizer, a abolição da propriedade individual e do governo; a anarquia é a destruição da miséria, da superstição e do ódio. Portanto, cada golpe desferido nas instituições da propriedade individual e do governo, é um passo rumo à anarquia, assim como cada mentira desvelada, cada parcela de atividade humana subtraída ao controle da autoridade, cada esforço tendendo a elevar a consciência popular e a aumentar o espírito de solidariedade e de iniciativa, assim como a igualar as condições.

O problema reside no fato de saber escolher a via que de fato nos aproxima da realização de nosso ideal, e de não confundir os verdadeiros progressos com essas reformas hipócritas, que, a pretexto de melhorias imediatas, tendem a afastar o povo da luta contra a autoridade e o capitalismo, a paralisar sua ação e a deixá-lo esperar que algo possa ser obtido pela bondade dos patrões e dos governantes. O problema consiste em saber empregar o quinhão de forças que possuímos e que adquirimos de modo mais econômico e mais útil ao nosso objetivo.

Hoje, em todos os países há um governo que, pela força brutal, impõe a lei a todos, obriga-nos a nos deixar explorar e a manter, quer isto nos agrade ou não, as instituições existentes, a impedir que as minorias possam colocar em ação suas idéias e que a organização social, em geral, possa modificar-se segundo as variações da opinião pública. O curso regular, pacífico, da evolução parou pela violência, e é pela violência que será preciso abrir-lhe caminho. É por isso que queremos a revolução violenta, hoje, e a queremos sempre assim, pelo tempo que quiserem impor a alguém, pela força, uma coisa contrária à sua vontade. Suprimida a violência governamental, nossa violência não teria mais razão de ser.

Não podemos, no momento, destruir o governo existente, talvez não possamos, amanhã, impedir que sobre as ruínas do atual governo, um outro surja; mas isto não nos impede, hoje, assim como não nos impedirá, amanhã, de combater não importa que governo, recusando submetermo-nos à lei toda vez que isto nos for possível, e opor a força à força.

Toda vez que a autoridade é enfraquecida, toda vez que uma grande parcela de liberdade é conquistada e não mendigada, é um progresso rumo à anarquia. Da mesma forma, também é um progresso toda vez que consideramos o governo como um inimigo com o qual nunca se deve fazer trégua, depois de nos termos convencido que a diminuição dos males por ele engendrados só é possível pela redução de suas atribuições e de sua força, não pelo aumento do número dos governantes ou pelo fato de elegê-los pelos próprios governados. E por governo entendemos todo homem ou agrupamento de indivíduos, no Estado, nos Conselhos, na municipalidade ou na associação, que tenha o direito de fazer a lei ou de a impor àqueles a quem ela não agrada.

Não podemos, no momento, abolir a propriedade individual, não podemos neste instante dispor dos meios de produção necessários para trabalhar livremente; talvez ainda não possamos quando de um próximo movimento insurrecional; mas isto não nos impede, a partir de hoje, assim como não nos impedirá, amanhã, de combater continuamente o capitalismo. Toda a vitória, por menor que seja, dos trabalhadores contra o patronato, todo esforço contra a exploração, toda parcela de riqueza subtraída aos proprietários e posta à disposição de todos, será um progresso, um passo rumo à anarquia. Assim, também, será um progresso todo fato que tenda a aumentar as exigências dos operários e a dar mais atividade à luta, todas as vezes que pudermos encarar o que tivermos ganhado, como uma vitória sobre o inimigo, não como uma concessão à qual deveríamos ser agradecidos, toda vez que afirmamos nossa vontade de tomar pela força, aos proprietários, os direitos que, protegidos pelo governo, subtraíram dos trabalhadores.

Uma vez desaparecido da sociedade humana o direito da força, os meios de produção colocados à disposição daqueles que querem produzir, o resto será resultado da evolução pacífica.

A anarquia ainda não estaria realizada ou só o estaria para aqueles que a desejam, e somente para as coisas em que o concurso dos não-anarquistas não é indispensável. Ela se ampliará, assim, ganhando pouco a pouco os homens e as coisas, até abraçar toda a humanidade e todas as manifestações da vida.

Uma vez desaparecido o governo, com todas as instituições nocivas que protege, uma vez conquistada a liberdade para todos assim como o direito aos instrumentos de trabalho, sem o qual a liberdade é uma mentira, só pensamos destruir as coisas à medida em que pudermos substituí-las por outras. Por exemplo: o serviço de abastecimento é mal feito na sociedade atual. Ele se efetua de modo anormal, com grande desperdício de forças e de material, e somente em vista dos interesses dos capitalistas; mas, em suma, de qualquer modo que se opere o consumo, seria absurdo querer desorganizar este serviço, se não estamos prontos a assegurar a alimentação do povo de uma forma mais lógica e eqüitativa.

Existe o serviço dos correios, temos mil críticas a fazer-lhe, mas, no momento, servimo-nos dele para enviar nossas cartas ou para recebê-las, suportemo-lo, portanto, enquanto não pudermos corrigi-lo.

Existem escolas, infelizmente muito ruins, entretanto não desejaríamos que nossos filhos permanecessem sem aprender a ler e a escrever, esperando que possamos organizar escolas-modelos suficientes para todos.

Vemos, portanto, que para instaurar a anarquia não basta ter a força material para fazer a revolução, mas é também preciso que os trabalhadores associados, segundo os diversos ramos de produção, estejam em condições de assegurar, por eles próprios, o funcionamento da vida social, sem o auxílio dos capitalistas e do governo.

Pode-se também constatar que as idéias anárquicas, longe de estarem em contradição com as leis da evolução estabelecidas pela ciência, como o garantem os socialistas científicos, são concepções que se adaptam perfeitamente a elas: é o sistema experimental, transportado do campo das pesquisas para o das realizações sociais.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

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MOVIMENTO DAS REDES 



sábado, 11 de fevereiro de 2012

TODA SOLIDARIEDADE ÀS FAMÍLIAS DE PINHEIRINHO!



Por Fórum do Anarquismo Organizado – FAO

Desde o dia 05 de janeiro cerca de nove mil moradores da comunidade do Pinheirinho (São Jose dos Campos/SP) estão sendo perseguidos e intimidados por uma operação policial a mando dos governos Municipal e Estadual. As mentiras veiculadas pelos meios de comunicação colocam os moradores como criminosos foragidos.

Porém, a área do Pinheirinho, ocupada há oito anos, pertence à massa falida da Selecta S/A, de propriedade do especulador financeiro Naji Nahas. Antes de ser ocupada, era uma terra que ficou abandonada por 30 anos, com mais de 1 milhão de metros quadrados. A massa falida da Selecta tem uma dívida superior a R$ 15 milhões em impostos com o município de São José dos Campos.

Através da ação direta, a comunidade da ocupação Pinheirinho demonstra legitimamente o direito ao uso deste terreno que estava servindo apenas à especulação imobiliária.


A desocupação de uma área como o Pinheirinho significa negar ao povo o direito à moradia e não só isso, a utilização da polícia atenta contra a vida daqueles lutadores, que não cederam a nenhuma injustiça por parte daqueles que nos roubam todos os dias.

A recente liminar expedida pela justiça federal já pode ser considerada como uma parcial conquista do povo organizado. Independente das disputas partidárias entre os distintos governos, a força dos moradores em luta demonstra a capacidade do povo em impor à sua vontade.

Como povo, ficamos do lado daqueles oprimidos, que sem um lugar para criar seus filhos e dormirem protegidos do frio, encontram em abrigos não dignos um lar e vão lutar com todas as suas forças, paus e pedras para defender o que lhes é de direito. Sem medo de armas, falsos discursos ou mentiras as quais já estamos cansados de ouvir!

Nem casa sem gente, nem gente sem casa!

Resista Pinheirinho!

Fórum do Anarquismo Organizado

Criar um povo forte!

Repressão, abolição de ideologias!

DNOCS X convivência com o Semiárido



Operar no Semiárido sem conhecer sua história é voltar a cometer os erros crassos do passado
Roberto Malvezzi (Gogó)

O Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) foi criado em 1909, ainda como Inspetoria de Obras Contra a Seca (IOCS), depois como Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (IFOCS). Durante décadas foi considerado como a maior empreiteira da América Latina.

A concepção do Departamento era equivocada em si mesma, isto é, combater a seca. Claro, nenhum país do mundo criou algum departamento para combater a neve, ou combater a chuva, ou combater o deserto. Entretanto, em sua longa existência, o Departamento construiu a maior açudagem do mundo, cerca de 70 mil, com capacidade para armazenar 36 bilhões de metros cúbicos de água de chuva. O Prof. João Abner, hidrólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, costuma dizer que, antes desses açudes, o semiárido era mesmo um deserto. Afinal, o que sempre faltou não foi chuva, mas a capacidade de armazenar a água que a chuva oferece.

Acontece que o Departamento criou ilhas de água, mas nunca fez sua distribuição horizontal. Essa lacuna fundamental é hoje admitida até por quem já esteja na chefia do órgão por quase uma década, como Manoel Bonfim Ribeiro. Essa é a proposta fundamental do Atlas do Nordeste, diagnóstico feito pela Agência Nacional de Águas para o meio urbano da região.

Mas, foi ali também que a chamada “indústria da seca” grassou como praga. Sempre exigindo novas verbas para novas obras, foi o ralo do enriquecimento pessoal de multidões de coronéis nordestinos, que fizeram a maior parte dos açudes e poços em suas propriedades particulares, além de construírem seu poder econômico e político manipulando a sede do povo. O que aconteceu esses dias com o apadrinhado do deputado Henrique Alves é apenas uma amostra grátis de décadas de drenagem do dinheiro público para cofres particulares.

Em 1959, intelectuais como Celso Furtado, setores da Igreja como dom Hélder Câmara, propuseram a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Em seu discurso inaugural, Celso Furtado pronuncia a expressão “convivência com o semiárido” - retirando do centro o enfoque no combate à seca e focando a industrialização - que já tinha lastro em outros intelectuais da academia nordestina. Mas, na lógica do capital e do patrimonialismo, a Sudene repetiu a indústria da seca do DNOCS. Com a criação da Sudene, o Departamento perdeu poder.

Esses dias a presidenta Dilma Roussef disse que não iria mais fazer a parceria com a Articulação no Semiárido Brasileiro, que tirou do papel a lógica da convivência com o Semiárido e a fez realidade. Com um fiapo de dinheiro e tecnologias simples, tem um impacto social maior na população mais pobre que cem anos de DNOCS. Agora o governo voltou atrás e disse que vai prosseguir na parceria, mas vai continuar com sua distribuição de 300 mil cisternas de plástico pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), pelas mãos do ministro Fernando Bezerra Coelho. Portanto, uma no cravo e outra no calo do povo.

Operar no Semiárido sem conhecer sua história é voltar a cometer os erros crassos do passado. Um pouco de humildade do governo evitaria tamanho descalabro, como as cisternas de plástico e a nova cara dessa nefasta indústria da seca, agora como hidronegócio materializado na Transposição.

Dilma tem feito um esforço arretado para ressuscitar a indústria da seca.


Roberto Malvezzi (Gogó), é músico e escritor de Juazeiro (BA), coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

AVISO – DCE/UEVA


Atenção aos alunos que estão com problemas de matrícula ou com assunto pendentes com a PROGRAD.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE-UVA) convoca os alunos para preencherem um formulário na qual irão relatar o problema, sendo dessa forma direcionada diretamente a PROGRAD na busca pela solução dos eventuais problemas.
Desde já agradecemos a atenção e esperamos a participação de todos na ideia da mudança deste falho sistema da UVA.

Diretório Central dos Estudantes – DCE/UVA

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Em defesa dos nossos coletivos



Os debates em torno da mobilidade urbana das grandes cidades brasileiras têm ganhado cada vez mais força e relevância, tanto pelos problemas cotidianos de tráfego quanto pelo discurso em prol de um estilo de vida mais sustentável. Especialistas e leigos são unânimes em afirmar que boa parte da situação caótica de nossas ruas e avenidas poderia ser amenizada se as administrações municipais, estaduais e federal investissem maciçamente em uma real melhoria das condições de acesso e uso dos transportes coletivos, como os ônibus, trens e metrôs.

É de se lamentar o fato de que, recentemente, algumas capitais como Teresina (PI) e Vitória (ES) tiveram aumentos nas tarifas de coletivos, fato que provocou a legítima indignação dos usuários. Fortaleza não está livre de um futuro aumento, mesmo que o slogan de possuir uma das passagens menos caras do Brasil seja fartamente utilizado nas próximas eleições em benefício do candidato escolhido pela atual prefeita. Ao permitir que empresários do ramo rodoviário manipulem os preços das passagens, muito provavelmente movidos pela sede de lucro e sem uma real preocupação em trazer qualquer benefício ou conforto adicional que justifique os aumentos, os gestores eleitos pelo povo matam qualquer discurso "verde" e qualquer possibilidade concreta de melhorar o fluxo urbano.
O elevada tarifa, aliada à sensação de insegurança e ao desconforto das viagens, especialmente quando os veículos estão lotados, servem como desestímulo ao seu uso. Pior ainda é a situação das mulheres, por serem vítimas potenciais de violência sexual, algo que infelizmente é naturalizado e retratado com deboche por programas "humorísticos" de TV como o Zorra Total, exibido pela Rede Globo.

Se uma pessoa adquire condições de comprar o seu próprio veículo, ela o fará movida pelo seu próprio conforto e pelo descrédito no uso dos ônibus, metrôs e afins. A mobilidade urbana e a preservação do meio-ambiente são temas deixados de lado quando essa pessoa se sente lesada pelas ineficácias do transporte coletivo e tem suas pressas pessoais. Mesmo sendo uma postura compreensível, não está certa. Se quisermos realmente evitar o colapso urbano, é fundamental lutar por transportes coletivos que tenham preços justos e condições concretas de conforto e segurança.

Fonte: Blog Rabiscos da Débora

Pinheirinho, Brasil e a tragédia do desenvolvimento

O Brasil se tornou um imenso canteiro de obras. O problema é que há gente morando nos locais onde se quer construir.


Leonardo Sakamoto






Então, para garantir que ninguém interrompa este país (que caminha impávido para cumprir seu destino glorioso), remove-se, expulsa-se, retira-se. Degreda-se. Para onde? Pouco importa, contanto que não atrapalhe a marcha.
E isso se aplica à construção de casas, escritórios, estradas, hidrelétricas, estádios de futebol.
Certo dia, um fazendeiro português com terras no Mato Grosso disse a Pedro Casaldáliga, símbolo da luta pelos direitos do campo no Brasil, para justificar o injustificável: “Dom Pedro, o senhor é europeu, o senhor sabe. As calçadas de Roma foram feitas por escravos. O progresso tem seu preço”.
O uso da porrada como instrumento de cumprimento de ordem legal varia caso a caso. Mas a violência está presente em todos eles, com bala de borracha ou não. Afinal de contas, existe maior atentado contra a dignidade humana que a remoção forçada de pessoas, no campo ou na cidade, que não têm para onde ir?
Adoro quando o governo diz “estávamos apenas cumprindo ordens”, mesmo quando todos sabemos que não havia condições para que a execução dessas ordens fosse feita de forma a respeitar a dignidade da população. Há sempre a possibilidade de dizer “não”, a Constituição garante isso ao poder público. Mais importante que um cumprimento imediato é um resultado pacífico. Em Nuremberg, o “cumprir ordens” foi amplamente usado. Lá, não colou. Aqui, cai como uma luva.
Cada um tem sua parcela de responsabilidade, apesar do Fla-Flu político instalado na internet queira demonstrar que não.
Falar sobre a política higienista de São Paulo e de seus governantes, estaduais ou municipais, é quase chover no molhado. Afinal de contas, as empreiteiras e os especuladores imobiliários estão lá, doando recursos de campanha, emprestando parentes para cargos públicos, influenciando o cumprimento e o não cumprimento de regras (o plano diretor da cidade de São Paulo que o diga).
Além do mais, a sanha punitiva do Estado-locomotiva (sic) da nação é grosseira, tendo – na maioria das vezes – como alvo a massa de sem-teto, sem-terra, dependentes químicos, pobres, enfim, os rotos que ousam ficar no meio do caminho. São Paulo é a prova viva do que ocorre com uma sociedade quando ela não digere e entende o seu passado. Ainda usamos métodos dos verde-oliva da ditadura, pois não refletimos como povo sobre eles após o fim dela, simplesmente anistiamos. Mudam-se os rótulos, ficam as garrafas. Qual a diferença de descer porrada em indígenas no Amazonas e Roraima para construir uma estrada durante a Gloriosa e lançar balas de borracha em uma comunidade pobre em São José dos Campos para, quem sabe, erguer um empreendimento?
Em São Paulo, Maria Aparecida foi mandada para a cadeia por ter furtado um xampu e um condicionador. Perdeu um olho enquanto estava presa. Sueli também foi condenada pelo roubo de dois pacotes de bolacha e um queijo minas. São dois, mas poderia ter dado muitos outros exemplos que ocorreram no Estado mais rico da nação. Aqui, a Justiça tem cumprido a letra da lei em casos de reintegração de posse contra sem-terra e sem-teto, mas é morosa na análise de casos de desapropriação de áreas griladas que deveriam retornar à coletividade (ah, é rápida também para adiantar parcelas de auxílio-moradia a alguns magistrados que são mais iguais que os outros). Isso sem contar que, para executar as ordens, administradores são implacáveis com pequenos e delicados com os grandes.
Mas dá paúra ver setores do governo federal, como a Secretaria Geral da Presidência, ultrajados com a tragédia humana que está ocorrendo em São José dos Campos, ao passo que a União está jogando o trator em cima de ribeirinhos, camponeses e indígenas para a construção de usinas hidrelétricas, como a de Belo Monte, no Pará. Em nome do progresso – o mesmo do fazendeiro interlocutor de Casaldáliga citado acima. Como já disse, violência estatal não é só dar porrada com cacetete. Ela pode vir através de financiamento também. É mais limpo e não cheira a gás.
Ultraje, passageiro, diga-se de passagem. Pois Gilberto Carvalho, o ministro que teve um secretário atingido por bala de borracha na desocupação do Pinheirinho, primeiro reclamou de como ela ocorreu. Depois, amenizou. “Não vou dizer que é imperdoável, mas é grave”.
E, antes que me esqueça, empreiteiras também são grandes doadoras de campanhas federais.
O governo brasileiro inundou o país com bilhões em recursos para a construção, com o objetivo de modernizar a infra-estrutura e erguer moradias, girando a economia. Só que “esqueceu” de uma coisa: com o mercado imobiliário aquecido, a busca por áreas urbanas para a incorporação levaria à expulsão de comunidades pobres que disputam a posse de terrenos. Se a Justiça considerasse sempre a função social da propriedade para tomar suas decisões, como está previsto na Constituição Federal, a história seria diferente e essas comunidades teriam direitos preservados. Mas se o Coelhinho existisse, talvez eu tivesse ganho o ovo de chocolate que tanto queria na última Páscoa. Ou se Papai Noel fosse de carne e osso, obras para a Copa não desalojariam ninguém de forma questionável.
O Planalto não se planejou para esses impactos da transformação do país em canteiro de obras. Para falar a verdade, não planejou muita coisa nessa área.
A questão trabalhista na construção civil está uma calamidade – os protestos na usina hidrelétrica de Jirau, que levaram a um quebra-quebra no ano passado, são a cereja do bolo. Pipocam manifestações de trabalhadores nas obras de estádios para a Copa do Mundo, como em Recife e no Rio de Janeiro, e casos de trabalho escravo (artigo 149 do Código Penal) em obras de moradia. Até em empreendimentos pertencentes ao “Minha Casa, Minha Vida” o Ministério do Trabalho e Emprego já libertou gente, como noticiei aqui.
E querem saber o melhor de tudo isso? O grosso da população brasileira não se importa. Assiste ao Estado tocar o diabo em uma comunidade. Acha um absurdo exageros, como todo cordial brasileiro, mas também não se importa em saber como o seu apartamento, energia elétrica, estrada ou estádio foram feitos. Quer ser abençoado e permanecer na ignorância.
Lembro-me do ensaio “O Fausto de Goethe: A Tragédia do Desenvolvimento”, de Marshall Berman. Trata da ambigüidade destes tempos de constante transição, nos quais o homem encaixa-se no contexto da modernidade da forma como consegue e da forma em que as circunstâncias permitem. Um tempo de paradoxos. Fausto é um personagem que tem altos e baixos: encanta e fascina, surpreende e decepciona. Não é possível traçar um caráter para ele, pois ele não o possui. Assim como todo o sistema, é mutável – uma metáfora do desenvolvimento capitalista.
Fausto vendera sua alma em troca de experimentar as sensações do mundo. Mas o diabo não é o Lúcifer da cristandade, não representa o mal em si, mas sim o espírito empreendedor capitalista e burguês. A mentalidade que fomenta Fausto (“destruir para criar”) é a realidade em constante movimento (Mefistófeles perguntava a ele se Deus não havia destruído as trevas que reinavam no universo para poder criar o mundo).
Essa destrutividade criativa pode ser encontrada no caso de Filemo e Baúcia, um casal de idosos. Ambos eram um empecilho para os planos do empreendedor Fausto e precisavam ser removidos. Quando Mefistófeles queima a casa deles, os assassinando, não quer Goethe provar a sua maldade, mas expor exatamente o contrário: joga-se a negatividade fora criando o princípio fictício que o mal (o casal idoso) pode ser estirpado da sociedade. Caem os limites morais. O desenvolvimento da modernidade não possui padrões éticos, além da ética que cria para si mesmo.
Para parte da população brasileira, o Pinheirinho era um mal a ser extirpado em nome do progresso e do futuro.
Mundo triste. Demais.


sábado, 4 de fevereiro de 2012

ATENÇÃO: A UVA está oferecendo esmolas aos estudantes...

SEM RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO, OS ESTUDANTES DE FORA IRÃO SOBREVIVER EM SOBRAL COM AS ESMOLAS DO ESTADO!
COMPROVE PARA A UNIVERSIDADE QUE VOCÊ É LISO, SEM GRANA, E QUE CALADO CONCORDA COM A FALTA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DESTA INSTITUIÇÃO...!
EM TROCA ELES IRÃO LHES OFERECER UMA CERTA QUANTIA EM DINHEIRO...
VAMOS TODOS EM FAVOR DO NOSSO RESTAURANTE, R.U JÁ!


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O IIRSA e a Resistência dos Movimentos Populares

O IIRSA (Iniciativa para Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana) é um programa estabelecido pelos governos de 12 países na América do Sul, com o objetivo de integrar fisicamente esses países mediante ações conjuntas nas áreas de transportes (rodoviário, portuário, aeroportuário, hidroviário, etc), energia (oleodutos, gasodutos, redes de energia elétrica, etc), logística (quebra de barreiras aduaneiras, mercados de fretes e seguros, etc) e telecomunicações, levando em conta estradas, rios e hidrelétricas.
Esses projetos, já em curso em todos os países integrantes, são financiados e impulsionados por organismos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF), o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), do Estado brasileiro, etc. As construções em curso, e de tamanha infra-estrutura, que sem dúvida levarão os países da América do Sul a um aumento exponencial da sua dívida externa, servirão para fundamentalmente maximizar a exploração dos nossos recursos naturais, acelerar o processo de abastecimento dos mercados internacionais com esses recursos e beneficiar as empresas transnacionais. O “desenvolvimento econômico” para a região que se intenta com esse plano promoverá as condições necessárias para a reprodução do sistema capitalista, por meio da abertura dos mercados mundiais, promoção da iniciativa privada e retirada dos Estados da atividade econômica direta. O que significa uma nova ofensiva, em consonância com tratados de livre comércio estabelecido entre os Estados Unidos e alguns países da região, para a ampliação do modelo neoliberal na América do Sul.
Diante dos objetivos declarados abertamente pelos organismos multilaterais por trás do IIRSA, de promover a abertura da região para os mercados internacionais, sabemos que toda essa infra-estrutura não promoverá o desenvolvimento sócio-econômico da região, mas consolidará ainda mais o espólio das nossas riquezas naturais, perpetuando o histórico de região periférica abastecedora do capitalismo internacional.
O que somente continuará enriquecendo as classes dominantes e manterá as veias do nosso continente abertas para o saque. Como conseqüência de tal modelo haverá, inegavelmente, ocupação de terras indígenas, remoção inteira de populações locais, alterações em leis ambientais, etc. Só no Brasil, por exemplo, das 137 unidades de conservação, metade será afetada por projetos ligados ao IIRSA, o que, sem dúvida, provocará sérios impactos ambientais. Por essas razões, entendemos que o plano IIRSA e o modelo de desenvolvimento que fomenta provocarão mais perda de soberania, precarização do trabalho, desigualdade social e roubo dos recursos naturais do continente.
Dado a forma como esse plano vem sendo implementado desde o seu início, em 2000 – com total desconhecimento social, silêncio dos governos e das mídias corporativas, sem qualquer consulta às populações locais que já estão sendo afetadas por ele e as que ainda serão – e a abrangência de suas ações conjuntas, que operarão em todo o continente, diversas organizações populares pelo continente, muitas delas reunidas no IX Encontro Latino Americano de Organizações Populares Autônomas (ELAOPA), ocorrido em São Paulo no mês de janeiro, concordaram ser de fundamental importância que o IIRSA seja um tema em torno do qual os movimentos devem atuar nos próximos anos. O IIRSA é só um dos motivos dentre os quais os movimentos populares podem e devem se organizar. Sabemos que as necessidades nos unem em torno das mais diferentes questões: aquelas relativas ao campo do trabalho, à moradia, à terra, aos serviços públicos, aos recursos naturais, à comunicação, à cultura, às opressões de gênero, raça e etnia, à educação, dentre tantas outras. São questões que resultam da sociedade de classes em que vivemos, em que um pequeno grupo das classes dominantes detém o poder e as grandes maiorias são oprimidas, exploradas, dominadas.
A intervenção nesta correlação de forças só é possível por meio da organização, quando nos associamos aos nossos semelhantes e, juntamente com eles, construímos alternativas de luta. A essas organizações, que unem pessoas que fazem parte do campo oprimido e que se articulam em torno das necessidades, dá-se o nome de movimentos populares ou de movimentos sociais. Unindo a necessidade, a organização e a vontade que temos de transformar a sociedade, conseguimos potencializar nossas forças e unidos, intervir de maneira mais adequada na realidade. O principal problema que hoje enfrentamos é a falta de mobilização das classes oprimidas que, em sua ampla maioria, estão desorganizadas e sem contribuir efetivamente no processo de luta de classes dentro do qual estamos inseridos. Portanto, mobilizar, realizar o trabalho de base, organizar para a luta e para a resistência parece uma necessidade das mais importantes.
No entanto, não basta qualquer tipo de organização. Quando estivermos mobilizando, realizando trabalho de base e criando movimentos sociais, devemos estar atentos para que estes contribuam com o nosso projeto de transformação social. Infelizmente, hoje em dia, os diversos setores que estão organizados, na imensa maioria, não contribuem neste sentido e a razão disso ocorrer é por estarem completamente burocratizados.
É fundamental, por este motivo, além da criação de novas organizações, que nossa militância participe de movimentos já existentes.
Em ambos os casos, é imprescindível a promoção dos princípios que nos unem, como por exemplo aqueles que fundamentam o ELAOPA. A defesa da solidariedade e da independência/autonomia de classe, da solidariedade, da luta popular e da democracia de base, no intuito de construir o poder popular em nossas terras, materializa esta forma de trabalho dos movimentos populares.
Acreditamos que, associadas nos movimentos sociais, as classes oprimidas devem se organizar com base na solidariedade de classe, criando a possibilidade de trabalhos conjuntos e alianças entre os diversos setores do povo, ou seja, das classes oprimidas (trabalhadores da cidade do campo, precarizados/desempregados, etc.) sem priorizar uma ou outra fração de classe. É também fundamental saber manter a independência/autonomia de classe, naquilo que diz respeito aos partidos políticos, aos governos, às empresas, ONGs e outros que não se encontram do nosso lado na luta de classes. Além disso, a hierarquia deve dar lugar às decisões democráticas a serem tomadas pelas próprias bases dos movimentos, o que é fundamental para irmos criando hoje a sociedade em que queremos viver amanhã.
É somente por meio da luta popular de massas, articulada nos movimentos populares, que poderemos acumular forças de maneira a conseguir vitórias no curto prazo e ir acumulando para um processo de mais longo prazo, quando nossa força poderá ser capaz de superar as forças das classes dominantes, tornando possível a construção de uma nova sociedade.
Quando defendemos que a construção do poder popular deve começar desde já, significa que este acúmulo de forças, sendo realizado a partir dos princípios colocados, pode começar a moldar a sociedade que queremos construir. Poder, neste sentido, não significa Estado e nem as suas instâncias, significa a superação das forças das classes dominantes pelas forças das classes oprimidas, um sistema de regulação completamente distinto, autogerido e decididamente democrático, em que não há exploradores e explorados, dominadores e dominados.
Popular, pois nosso projeto de poder é de classe, e se forja no seio das classes oprimidas, na luta e na resistência.

Federação Anarquista do Rio de Janeiro

CHARGE!!!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ATENÇÃO- ANÚNCIO

CURSO DE FORMAÇÃO POLÍTICA NO CCH- UVA

QUINTA E SEXTA

MANHÃ E TARDE

"ANÁLISE DE CONJUNTURA. SISTEMA CAPITALISTA, SEU REFLEXO NA UNIVERSIDADE."