Saudações Companheiros!

A luta deles é para segregar, a nossa luta é para unificar. Nossa luta não é a luta do contrapoder: é a luta do antipoder. John Holloway

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O “AMIGO” DA UNIVERSIDADE E A IMPLANTAÇÃO DO VOLUNTARIADO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR




No dia 30 de março de 2012, segundo o site da própria UVA, na reunião do Conselho Universitário (CONSUNI), a reitoria da UVA tirou da manga mais uma peça de sua política neoliberal de desvalorização e desqualificação da nossa instituição — o professor voluntário!!!

A instituição da figura do professor voluntário, assim como a do professor colaborador, visa a precarização do trabalho docente, a fragilização da luta docente por concurso público para professor efetivo e o aligeiramento do ensino superior. Como sabemos, a precarização do trabalho docente se efetiva mediante diversas formas: jornada de trabalho ampliada, perda de autonomia intelectual, baixos salários, contratos temporários, dentre outras.

Em nosso entendimento, a implantação do professor voluntário não tem nenhuma justificativa pedagógica, acadêmica ou científica. Sua existência tem a ver com o arrocho fiscal, com a política deliberada de não realização de concurso público e destruição dos serviços públicos. Essa política, além de nefasta, é de uma crueldade sem par, pois os nossos jovens são oriundos de famílias de baixa renda e precisam de um ensino de qualidade para prepará-los condignamente para a vida profissional e para inseri-los na vida social e política do estado e do país.

O professor voluntário é a retomada do discurso apresentado de forma midiática — o “amigo” da escola, o voluntariado — agora, na educação superior. Tal discurso e prática prestam um desserviço à comunidade acadêmica, pois joga água no moinho do processo, já avançado de privatização da instituição.  

A reitoria atual é a vanguarda do atraso, pois não tem em seu horizonte político a defesa do patrimônio cultural da região norte do Ceará materializado na Universidade Estadual Vale do Acaraú e nem a elevação do patamar cultural dos jovens da referida região. Isso fica evidente com o descalabro já causado à instituição pela privataria tucana (mudança do regime jurídico da UVA para fundação pública de direito privado em 1993, ausência de um prédio próprio da instituição transferindo milhares de reais por mês para o clero, nomeação de reitor por meio de processo absolutamente antidemocrático, professor colaborador, etc).

Nesse contexto, impõe-se como tarefa a refundação da UVA, sob bases públicas, e a ação da comunidade universitária em tomar para si o destino da instituição. A história nos ensina que é possível, pois, lembremos que, em pleno 1918, em Córdoba, na Argentina, os estudantes redefiniram o destino da Universidade de Córdoba ao se levantar contra as oligarquias, o clero e a burocracia universitária e exigir governo tripartite (alunos, professores e funcionários), ensino público, laico e democrático. Esse movimento ficou conhecido como reforma de Córdoba e se espraiou pela América Latina e pelo mundo chegando a influenciar alguns dirigentes do maio de 1968, na França.

Os problemas da UVA são decorrentes da falta de autonomia universitária (de gestão financeira, didático-pedagógica) e de gestão democrática. Só a nossa luta poderá refundar a UVA pública e o SINDIUVA, assim como o DCE, estão desfraldando a bandeira da Estatuinte, ponto de partida desse processo.

No dia 25 de abril, no Auditório do CCH, às 19 horas, estaremos deflagrando a Campanha pela Estatuinte com a palestra do professor Cesar Minto, (Prof. da USP e da Diretoria do Andes), e sua presença é fundamental pois como diz Bertold Brecht:



Quem for derrubado, que se levante!

Quem estiver perdido, lute!

 Pois os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

 E o nunca se faz: Hoje ainda!



 Estatuinte Já! Concurso Público para Professor Efetivo! Assistência Estudantil! Eleições Diretas e Paritárias para Reitor e demais órgãos diretivos! Autonomia e Democracia Universitárias!



SINDIUVA

DCE

terça-feira, 3 de abril de 2012

Queremos Assistência Estudantil, não esmola!

& Centros Acadêmicos

Durante os mais de 40 anos de UEVA uma das pautas principais do Movimento Estudantil foi, e ainda é, a assistência estudantil, representada principalmente pelos tão aclamados R.U’ s (restaurante e residência universitários).
No entanto, apesar de tanta luta a universidade utiliza suas verbas para reformar o estacionamento e alguns setores da UEVA com o objetivo de maquiar a real situação de precarização, ao invés de investir na construção dos R.U’s. O que a universidade apresenta como Assistência Estudantil são, na verdade, medidas paliativas, como o PBU, em que a maioria das bolsas são destinadas para os estudantes trabalharem em coordenações, pró-reitorias etc. Ocupando cargos que deveriam ser ocupados por funcionários da IES.
No semestre de 2012.1 surge mais um absurdo, o Auxilio Alimentação, absurdo começando pelo valor, apenas R$ 101. Considerando o valor dos aluguéis, custos com alimentação e os textos semanais, desconfiamos
que os míseros R$ 101 reais não sejam suficientes para suprir as necessidades dos estudantes. Além disso, os estudantes que desejam participar da concessão de Auxílio Alimentação não podem possuir outras atividades remuneradas, nem contemplados com outras modalidades de bolsas, ou seja, o estudante deve sobreviver com a ''fortuna'' de R$ 101.
Dentro dessa conjuntura, afirmamos que os estudantes da UEVA almejam políticas Estudantis que garantam sua permanência na Universidade, ou seja, queremos Assistência Estudantil, não esmola!

DCE & Centros Acadêmicos

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Carta Aberta



CARTA ABERTA À SOCIEDADE CEARENSE, AO GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ, CID GOMES, E À PRESIDENTA DO BRASIL, DILMA ROUSSEF, EM OCASIÃO DA ASSINATURA DA ORDEM DE SERVIÇO DO VLT, OBRA DE REMOÇÃO DE NOSSO POVO TRABALHADOR

É com profundo e revoltante pesar que nós, moradores das Comunidades dos Trilhos, organizadas no Movimento de Luta em Defesa da Moradia (MLDM), lançamos esta nota pública ao conhecimento da ampla sociedade brasileira e cearense que acompanha solidariamente nossos anos de luta para a permanência de nossas famílias, avós, netos, pais e filhos em nosso lugar de moradia.

Hoje, dia 27 de fevereiro de 2012, manifestamos o nosso pleno e total desacordo com o ato da Presidenta Dilma Roussef no que se refere à assinatura da ordem de serviço para a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), metrô de superfície que será construído ao longo de 12,7 km dentro Fortaleza, passando por 22 bairros e dezenas de comunidades em Fortaleza-CE, atingindo quatro mil (4.000) de nossas famílias. Durante estes longos dois anos de pressão por parte do Governo, sofremos com a ação de várias empresas terceirizadas que, a serviço do Estado, percorreram as comunidades para realizar cadastros, marcar e medir nossas casas. Para tanto, fizeram uso constante dos mais inescrupulosos recursos: moradores, incluindo idosos, foram ameaçados e intimidados; inúmeras casas foram marcadas sem o conhecimento e consentimento dos moradores; nossos domicílios e nossa intimidade foram violados; documentos foram recolhidos sem explicação.
Desde que Fortaleza fora escolhida como sede da Copa do Mundo de 2014 nossa vida mudou. Ao invés de trazer melhorias para nosso povo, a Copa vai trazer a maldade da remoção forçada em massa, da segregação e da higienização social. Longe de ser um evento esportivo para o nosso povo, a Copa em Fortaleza vai beneficiar principalmente, e talvez unicamente, os grandes empresários do setor hoteleiro, da construção civil e a FIFA, deixando um legado irreparável para as pessoas afetadas pelas grandes obras, como é o caso do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), metrô de acesso ao estádio.

Muito se fala e defende sobre os benefícios que o Mundial trará para Fortaleza, mas pouco se lembra ou mesmo se discute sobre os legados negativos para nós, moradores. Desta forma, alertamos para as seguintes questões e demonstraremos a forma como os governos nos têm tratado.

1) A falta de diálogo, transparência e publicidade dos atos do poder público tem sido uma marca registrada de todo o processo. Isto teve início quando da publicação do Decreto de Desapropriação nº 30.263 de julho de 2010 que declarou de utilidade pública, para fins de desapropriação, área de 381.592, 87m2 ao longo de 15, 85 km. Desta área, 12,7 km correspondem às nossas casas. Isto fez com que se iniciasse uma intensa guerra psicológica demonstrando o profundo desacordo no que se refere ao próprio Plano Diretor de Fortaleza quando diz que a gestão da cidade será democrática, incorporando a participação dos diferentes segmentos da sociedade em sua formulação, execução e acompanhamento, garantindo a participação popular e a descentralização das ações e processos de tomada de decisões públicas em assuntos de interesses sociais (art. 3º, § 4º, inc. I).

2) O projeto do VLT está orçado em aproximadamente R$ 265 milhões. No entanto, o valor das indenizações será baixíssimo, demonstrando uma clara desproporção e desimportância que o poder público dá ao nosso povo. O valor indenizatório será levado em conta apenas as benfeitorias, o que torna os valores pagos insuficientes para a aquisição de novas casas no mesmo bairro e em condições dignas de moradia. A única opção que nos tem sido imposta é a do trator e das escavadeiras.

3) O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o seu respectivo relatório (RIMA) não valoraram e nem apresentaram alternativas tecnológicas de engenharia para o VLT, como o Bus Rapid Transit (BRT) que será utilizado em outras cidades. Também não foram apresentadas alternativas locacionais de trajeto em outras vias ou caminhos para a obra de modo a não envolver remoções do nosso povo. Ignoraram-se também os pedidos formais de nossas comunidades para realização de mais Audiências Públicas sendo expedida a Licença de Instalação, pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (COEMA), em 02 de setembro de 2011.

4) Mesmo contando com ampla articulação entre a Defensoria Pública da União, Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará e Ministério Público Federal na defesa dos nossos direitos por via de ações judiciais; e da Superintendência Estadual do Meio Ambiente, que proferiu parecer desfavorável ao VLT, prevaleceu o autoritarismo político. Isso demonstra o claro perfil de classe do judiciário e do governo brasileiro que não está a favor das causas populares. Exemplo disso foi o que aconteceu em São José dos Campos com as famílias do Pinheirinho. Esta covardia está gravada em nossa memória.

5) A proposta vastamente veiculada na imprensa e pelo Governo do Estado do Ceará situa o nosso novo local de moradia no José Walter, área já limite de Fortaleza. Para muitas comunidades esta distância é de 14 km da atual moradia e em uma área onde já residem mil e duzentas (1.200) famílias que há dois anos esperam a construção de um conjunto habitacional. Esta proposta de remoção e assentamento em local distante é um abuso. A própria Lei Orgânica do Município de Fortaleza prevê a consulta obrigatória e acordo de pelo menos dois terços da população atingida, assegurando o reassentamento no mesmo bairro (art. 149, inc. I, b). Trata-se de um verdadeiro estado de ilegalidade.

6) A Lei Estadual nº 15.056 de 06 de dezembro de 2011, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, em regime de urgência de modo a não dar tempo para a discussão ou mesmo para permitir que as comunidades conhecessem melhor o seu texto antecipadamente, prevê a forma indecente como serão realizadas as desapropriações. Vale salientar que várias de nossas comunidades só souberam da aprovação da lei vários dias depois. Em várias ocasiões exigimos que nos fosse apresentado e discutido um projeto alternativo que não envolvesse remoções, bem como que se tratasse com mais cautela o valor das indenizações. No entanto, só tivemos como resposta o silêncio, o descaso e a indiferença. Fomos, portanto, surpreendidos com a aprovação da citada lei.

7) Além de impor várias situações problemáticas e injustas para nosso povo, a citada Lei Estadual nº 15.056 estipula que, caso não concordemos com os seus termos, somente receberemos o baixo valor da indenização, uma vez que, para a grande maioria das nossas famílias, as indenizações se referem ao valor das benfeitorias. Isto nos tira a possibilidade de escolher onde morar, pois não poderemos comprar imóveis próximos do nosso local de moradia atual tendo que nos sujeitar ir para um conjunto habitacional inexistente e abusivamente distante.

8) A omissão histórica do Poder Público em realizar as políticas de regularização fundiária nos deixa atados e prejudicados, pois para a grande maioria é imposta uma indenização baseada na benfeitoria e não no valor da terra, na propriedade. A regularização fundiária trata-se de uma responsabilidade a ser facilitada e empreendida também pelo Estado, contudo hoje as comunidades pagam pela irresponsabilidade dos Governos. Não passa pela nossa cabeça ter que sair daqui, pois pelo tempo já temos o nosso direito à moradia, uma vez que muitos de nós vivemos aqui há 70 anos!

9) Por fim, o que se apresenta é a violação do direito humano à moradia para as nossas presentes e futuras gerações. Alertamos também para a questão dos nossos empregos, pois trabalhamos próximos da nossa moradia; e para a educação dos nossos filhos e filhas, que estudam no próprio bairro. Tudo isso em troca de uma obra de mobilidade urbana de discutível demanda que endividará os cofres públicos.

Desta maneira, mantivemos por dois anos exigências claras direcionadas ao Poder Público e estamos plenamente convictos de que ele as tinha sobre seu o conhecimento: exigimos que o VLT fosse construído em outro lugar, valorando alternativas ou passando pelas próprias avenidas; exigimos que o Governo parasse as marcações, os cadastros, as avaliações das nossas casas e a pressão psicológica que fez com que nossos parentes adoecessem e alguns deles, inclusive, falecessem; exigimos que se reconhecesse o direito de podermos autodeterminar o nosso local de moradia e permanecermos no local de sempre, pois é aqui que construímos nossas vidas, nossos empregos, nossas escolas e criamos nossos filhos e filhas.

Para nós, tal situação deve ser tratada, repetimos, como verdadeira remoção forçada em massa e higienização social, pois apresenta o pagamento de indenizações irrisórias ou então ir morar em um lugar inexistente, sem qualquer preocupação com os grupos vulneráveis existentes na área e destituindo milhares de nossos moradores, não apenas de suas casas, mas de toda a rede de relações sociais e da possibilidade de acesso a equipamentos e serviços fundamentais como escolas, hospitais, postos de saúde, oportunidades de trabalho e renda. Diante dessa situação, exigimos responsabilidade do poder público no âmbito municipal, estadual e federal.

É por isso que este governo nos envergonha!

Nenhuma casa abaixo, nenhum direito a menos!


Fortaleza/CE, 27 de fevereiro de 2012



MOVIMENTO DE LUTA EM DEFESA DA MORADIA (MLDM)

Comunidade Trilha do Senhor
Comunidade Aldacir Barbosa
Comunidade Dom Oscar Romero
Comunidade São Vicente
Comunidade Rio Pardo
Comunidade Jangadeiros
Comunidade João XXXIII (Pau Pelado)
Comunidade do Pio XII
Comunidades do Lagamar
Comunidades do Vila União
Comunidades do Mucuripe

VOTAÇÃO CINE DCE!

Escolha qual desses filmes você quer ver curtindo ou compartilhando no facebook do DCE... PARTICIPEM! 


domingo, 1 de abril de 2012

Inviáveis soluções para as crises

Geógrafo britânico David Harvey alerta para incapacidade do capital em resolver seus problemas

Maria Luisa Mendonça e Fábio T. Pitta
de São Paulo (SP)



O geógrafo britânico David Harvey é um dos principais intelectuais marxistas hoje e está entre os vinte cientistas sociais mais citados em todo o mundo. Atualmente é professor na City University of New York e esteve no Brasil recentemente para o lançamento de seu livro O Enigma do Capital e as Crises do Capitalismo, publicado pela Editora Boitempo. A análise de Harvey sobre a crise no modo de produção capitalista tem sido sistemática nas últimas décadas, desde o livro clássico The Limits to Capital (Os Limites do Capital) publicado originalmente em 1982. O autor resgata o pensamento de Marx de forma complexa e ao mesmo tempo didática, para mostrar criticamente as contradições inerentes ao capitalismo, com a intenção de apontar possibilidades de superação deste modo de produção.  

Brasil de Fato – O senhor tem analisado o processo de crise há bastante tempo, especialmente desde seu livro Os Limites do Capital. Como caracteriza estes limites no contexto da atual crise? Seria possível dizer que existe um processo simultâneo de crise e acumulação de capital?

David Harvey – Inicialmente é preciso entender que o capital nunca resolve seus problemas, apenas os transfere para outro lugar. Há hoje um aumento na velocidade com que essa transferência é feita, pois o movimento do capital é determinado de acordo com o jogo de poder político, que protege uma pequena elite financeira. Nos Estados Unidos, a grande maioria da população continuará a sofrer os efeitos da crise, que parece ter chegado a um patamar político. Ou seja, eu vejo que a crise, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, é mais política do que econômica. Por isso a crise se estende e aumenta, de acordo com os interesses de uma pequena classe de capitalistas. Vemos uma crescente concentração de riqueza no Brasil, na Índia, na China e, é claro, nos Estados Unidos.        

Como o senhor avalia as saídas tradicionais que têm sido utilizadas para lidar com a crise, sejam neoliberais ou keynesianas? Quais os limites destas receitas? É possível diferenciar estes dois campos ou o que vemos é transferência de mais-valia social para o setor privado através do aparelho estatal?    

A expansão da economia nos Estados Unidos nas últimas décadas se deve em grande parte ao crescimento do mercado imobiliário – o que veio a causar a bolha financeira neste setor. Isso mostra que não é possível sair da crise através das alternativas tradicionais. Ao mesmo tempo, vemos que o mesmo processo de acumulação está acontecendo na China, onde se desenvolvem grandes projetos imobiliários e de infraestrutura. De certa forma, a China está implantando um projeto semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1950, com a expansão dos subúrbios urbanos e a construção de rodovias, estimulada pela indústria automobilística. Podemos identificar este tipo de saída keynesiana ocorrendo no capitalismo global onde há crescimento, inclusive crescimento acelerado. Na América Latina, vimos revoltas contra o velho estilo do neoliberalismo e hoje há uma tendência keynesiana na economia. Já em países onde a receita neoliberal tem sido aplicada, como Europa e Estados Unidos, a crise se agrava. Mas é claro que isso não significa que o capitalismo global será salvo se todos se tornarem keynesianos. Os limites do sistema keynesiano já estão aparecendo na China, onde há uma superprodução de infraestrutura, uma bolha de ativos econômicos e aumento da inflação. Creio que podemos observar o mesmo processo na Argentina e no Brasil, o que revela os limites tradicionais do modelo keynesiano.     

No livro O Enigma do Capital o senhor caracteriza a crise atual de forma distinta das crises cíclicas, como na concepção de ciclos de Kondratieff, de queda tendencial da taxa de lucro ou da idéia de que as crises são consequência da queda do consumo ou do subconsumo. É possível dizer que a própria narrativa do livro mostra este processo?

O pensamento marxista tradicional imagina que exista uma única contradição através da qual as crises se desenvolvem no capitalismo. Porém, se observamos particularmente o segundo volume de O Capital, vemos que o que existe é um processo com vários momentos e, em cada um destes momentos, há a possibilidade de um bloqueio, o que gera a possibilidade de crise. Por exemplo, pode haver um bloqueio por falta de financiamento, como nos anos de 1970 quando os economistas falavam em “depressão financeira”. Isso levou ao processo de desregulamentação financeira, também caracterizado como “liberação de capital”. Mas ninguém fala sobre isso hoje. Naquele período havia uma classe trabalhadora mais organizada e o poder salarial era bem mais forte. Hoje isso não ocorre e, portanto, é difícil justificar a crise jogando a culpa nos sindicatos, como aconteceu anteriormente. No livro eu procuro mostrar que não é possível entender a crise a partir de um único lugar, mas perceber que há uma série de bloqueios, inclusive bloqueios em relação ao suprimento de energia ou recursos naturais. Eu procuro juntar estes elementos e pergunto: onde este processo está localizado hoje e para onde deverá ou poderá mover-se? Como o capital poderá superar um determinado bloqueio? Ou seja, eu não concentro a análise da crise em uma única explicação, como na diminuição do consumo ou na queda da taxa de lucro. Minha análise parte de uma combinação de fatores, que pode incluir todos estes elementos e por isso é preciso estudar concretamente. A teoria de Marx sobre a crise fala sobre possibilidades de crises. Por isso devemos procurar entender como essas possibilidades se transformam em realidade.   

Como o senhor vê a luta de classes hoje e os movimentos de protesto que falam em transformação através da idéia de que somos “os 99%”? 

Há dois tipos de possibilidades sendo debatidas. Uma seria manter o capitalismo através de mecanismos de retenção e regulação, o que poderia causar flutuações, mas não grandes fraturas. Seria uma forma de reorquestrar o capitalismo para que não causasse tantos danos como hoje, para promover mais igualdade, alguma distribuição de riqueza e sustentabilidade ambiental, como muitos na esquerda defendem. Outras pessoas dizem que não há saída no modo de produção capitalista e que é necessário buscar outras alternativas, com mudanças estruturais políticas e econômicas. É claro que as crises podem ocorrer em qualquer sistema, já que não é possível imaginar uma sociedade onde tudo funcionaria perfeitamente. Mas em um sistema não-capitalista as crises seriam de outro tipo. Acho que estamos nessa encruzilhada histórica, onde não temos muita segurança do que seria possível. Então surge o debate sobre reforma ou revolução. Eu acredito que há reformas que levam à revolução. As economias se tornaram tão interdependentes que uma proposta de revolução imediata poderia gerar catástrofes com muitas mortes. Então a questão seria avaliar que tipo de reformas teria um caráter revolucionário e levaria a outro sistema que abolisse a relação de classe, já que a essência do capitalismo é a relação entre capital e trabalho. Portanto, um projeto anticapitalista teria de erradicar a relação de classe. Há diversos movimentos pensando nessa direção como, por exemplo, as cooperativas de trabalhadores que recuperaram fábricas, mas alguns acabam reproduzindo um sistema de exploração capitalista, no qual os trabalhadores são seus próprios patrões. Portanto, não é suficiente pensarmos em termos de microeconomia, é necessário repensar a macroeconomia.     

Como o senhor vê o processo que descreveu como “acumulação por espoliação” na atualidade? Devemos analisá-lo como uma característica dos limites do capital ou como uma forma que o capitalismo encontra para, digamos, se reciclar?

Na medida em que o capital apresenta maior dificuldade para se sustentar, principalmente nos últimos 30 anos, aumenta a espoliação. Vemos hoje um enorme processo de expropriação e destruição de ativos e bens em várias partes do mundo, como no caso do mercado imobiliário, das poupanças e do roubo de direitos sociais, como no caso da saúde pública. Isso representa um enorme processo de acumulação por espoliação. Ao mesmo tempo, desde 2007, vemos uma enorme grilagem de terras por agentes particulares, empresas e governos em várias partes do mundo. A China, por exemplo, tem participado ativamente deste processo. Mas também vemos resistência política contra a espoliação. Estes movimentos de resistência podem se converter na base para uma transição anticapitalista. Além dos operários, todos os trabalhadores que produzem e reproduzem os centros urbanos e as organizações de luta pela terra podem se converter em um movimento massivo de construção de uma sociedade não-capitalista.   

Como o senhor analisa a possibilidade de uma nova guerra nesse momento de crise, dado o poderio bélico estadunidense armazenado?

Na verdade o que existe é uma guerra permanente em toda a história do capitalismo. Hoje os Estados Unidos estão envolvidos em duas guerras. Seria viável pensar em uma terceira frente de guerra? Eu não saberia responder. A questão é analisar qual o papel econômico da guerra, não apenas o aspecto geopolítico das guerras. Nos Estados Unidos há setores financeiros poderosos mesclados com a indústria bélica, que defendem a necessidade de desenvolver melhores tecnologias militares e com isso procuram justificar uma nova guerra. Por outro lado, seria possível resolver o problema da dívida nos Estados Unidos simplesmente cortando o orçamento militar, que representa o dobro de todos os gastos militares em nível mundial. Existem propostas nesse sentido, mas uma forma de evitar esses cortes seria iniciar outra guerra para justificar os gastos militares e, por isso, existe a possibilidade de uma ação contra o Irã. Ao invés de cortes nos gastos militares o que tem ocorrido são cortes nos programas sociais. Se analisarmos a relação entre a corrida armamentista e a dívida nos Estados Unidos, vemos que aumentou muito durante a Guerra Fria e o governo de Reagan, e seguiu aumentando nos governos de Bush.


CINE DCE!

PARTICIPEM....!!!


quinta-feira, 8 de março de 2012

EXPOSIÇÃO: MULHERES,A HISTÓRIA CONTADA POR ELAS



09 de Março
pelo DIA INTERNACIONAL DA MULHER
  • Exposição de Banners no Campus;
  • Palestra no CCH
  • Tema: As mulheres e os desafios feministas do Novo Milênio
  • Palestrantes: Dra Juliana Cronemberg de Negreiros (Promotora de Justiça)
    Mestranda Elzenita Alexandre (Tutora da Residência em Saúde da Família)
    Horário: 19 horas
Ivaldinete de Araújo Delmiro Gémes (Profa. Dra. do Curso de Ciências Sociais)
Não se nasce mulher, torna-se”
Simone de Bevouir